segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Sobre Amor e Santa Maria


Como falar de doces e cupcakes quando o Brasil ainda observa estático, as cenas horríveis de uma tragédia? Como não se emocionar, não se horrorizar, não se colocar no lugar – por um segundo que seja? Afinal, todos nós vamos à baladas nos finais de semana, ou temos amigos que vão... temos amigos, filhos, parentes, que frequentam lugares que sabemos bem, basta olhar em volta, observar com um pouquinho de cautela: só há uma porta de saída, nenhuma janela e está sempre super lotado. Será que estão seguros? Será que voltarão para casa? Como, então, não sentir esse aperto no peito ao ver pais e mães desabando no chão diante da triste notícia: seu filho não volta pra casa.
Na internet é possível encontrar diversos testemunhos, alguns de alívio outros de tristeza total. Um casal brigou e ela foi pra balada com as amigas. Agora, ele carrega o peso de não ter pedido pra ela ficar, de não ter adiado a briga, de não ter dado o braço a torcer. Era pra ser um domingo de reconciliação. Só que não.
Ao ler um testemunho como este a gente se põe a pensar. A gente olha o para o lado e agradece quem está conosco. Liga pra amiga pra falar um oi, ouvir a voz. Liga para o irmão pra ter certeza que ele chegou bem da balada. E tudo isso dá uma sensação alívio. Algumas pessoas  não poderão fazer isso hoje.
A questão toda é que não sabemos quando será a última vez que veremos o marido, a mãe ou o amigo. Não sabemos se amanhã ELES estarão aqui, ou se NÓS estaremos. Aquela velha ideia de sempre nos despedirmos com amor, é só uma velha ideia... não é fácil manter o amor ali, na ponta da língua o tempo todo. Em algum momento pode acontecer com você: haverá uma discussão boba, um leve desentendimento, você não se despedirá jurando que tem amanhã para resolver isso e... PÁ: a morte chegou e levou a pessoa de quem você não se despedirá, nem resolverá nada. E a sensação, aquele peso, agora é seu... você não disse o que tinha que dizer, não disse o que sentia, não se despediu com amor.
O correto seria valorizar hoje, tratar com amor e carinho quem está com você em casa, sua família, seus amigos, constantemente. Dizer, sempre que possível, o quanto se ama, o quanto se valoriza a companhia, o prazer os momentos juntos, elogiar as qualidades. Mas, quase sempre, nos prendemos em joguinhos sentimentais que nos impedem de sermos espontâneos, carinhosos. Muitas vezes nos prendemos numa irritação ignorante ou em um comportamento de birra, que nos afasta dos queridos da nossa convivência.
O fato é que relacionamentos não são fáceis. São tantos comportamentos diferentes, hábitos, manias... Até o relacionamento com a sua profissão é complicada, cheia de altos e baixos. Tem dias em que a gente acorda amando o emprego, é tudo lindo e realizador... enquanto em outros dias, nos perguntamos por que não escolhemos outra profissão, outra área, outro cargo.
Assisti uma entrevista com o Padre Fábio de Melo outro dia e ele comentou algo que eu achei extremamente interessante. A apresentadora do programa conversava com ele sobre a escolha da “profissão” dele e perguntou qual foi o motivo pelo qual ele escolheu ser padre, em que momento ele se apaixonou pela ideia de ser padre. Ele respondeu então que desde criança sempre quis ser padre. Mas não se lembrava em que momento se “apaixonou” pela ideia de ser padre, que ele só seguiu seu coração... e hoje, usa não só o coração, mas a cabeça, para manter-se firme na sua escolha. Ele disse que ele próprio mudou, e o motivo pelo qual escolheu já não é mais o mesmo. Ele explicou que o Fábio que escolheu ser padre não é o mesmo Fábio de hoje. E que o Fábio de hoje tem consciência disso, das mudanças, então ele busca diariamente motivos para amar ser padre: “novos motivos todos os dias”.
Achei isso lindo. Achei uma forma de pensamento fantástica que pode ser usado tanto na profissão quanto nos relacionamentos em geral. Afinal, o motivo pelo qual você ama seu namorado ao conhecê-lo, não é o mesmo que a faz aceitar se casar com ele e, definitivamente, não é o mesmo motivo que a mantém casada por anos. O problema é que muitas vezes nos prendemos ao sentimento do começo: queremos de volta aquela sensação, aquele tesão inicial que move um relacionamento novo. Mas isso acaba e o que resta são duas pessoas comuns, cheias de defeitos e qualidades que precisam estar dispostas a fazer dar certo. Pois apesar de muita gente ver o relacionamento de maneira deturpada, a realidade é que relacionamento é um exercício de doação diário. É necessário ter paciência para doar, carinho para doar, ouvidos para doar, colo para doar, atenção para doar... É preciso trabalho e dedicação. É preciso escolher amar e encontrar motivos novos para amar todos os dias. Porque o amor, por si só, não vai manter nada em pé... é a sua dedicação e o seu trabalho que vão.
Então, dessa sensação de impotência diante da morte e da tragédia... fica aqui uma reflexão... fica aqui uma ideia que necessito dividir: faça suas escolhas usando a cabeça e o coração. O coração para escolher e a cabeça para confirmar. O coração para lhe dar a direção e a cabeça para percorrer o caminho. Escolha amar e ame todos os dias de uma maneira nova. Seja espontâneo, diga o que sente e repita. Resolva os desentendimentos, não durma brigado com ninguém, não tenha vergonha ou medo de ceder, de pedir desculpas ou de perdoar. Todos esses impasses, birras e medos, no final das contas, não valem da nada... Só o amor que você dedicou e recebeu que realmente teve valor. Só o seu trabalho e a sua dedicação dentro dos seus relacionamentos são importantes. Só o autoconhecimento é válido. Então, ame e trabalhe por esse amor: busque motivos novos para continuar amando TODOS OS DIAS!

Sweet hugs,
Laurinha